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09.05.2025Conheça a história dos restaurantes de Curitiba, os espaços mais disputados no Dias das Mães

A tradição de celebrar o Dia das Mães com um almoço em algum restaurante movimenta desde os mais sofisticados até os pequenos estabelecimentos de bairro. Neste domingo (11/5), a lotação é quase certa.

Atualmente, a cidade conta com cerca de 11 mil estabelecimentos de alimentação com alvarás ativos na Prefeitura de Curitiba. São restaurantes, lanchonetes, bares e churrascarias que consolidam a capital paranaense como um grande e variado polo gastronômico no país. Mas essa abundância e diversidade de opções têm origens bem modestas.

Uma pesquisa do Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural de Curitiba revela que os primeiros restaurantes de Curitiba nasceram das antigas casas de pasto (pasto num sentido arcaico do português tem a ver com refeição), estabelecimentos muito simples, dentro das residências das famílias, onde eram servidas refeições caseiras, à base de arroz, feijão e carne, preparadas pelos donos ou seus familiares.

Esses pontos de paradas para saciar a fome começaram a surgir no final do século 19, especialmente nas regiões da Vila Guaíra e do Água Verde. No início do século 20, três casas de pasto funcionavam no Centro de Curitiba: duas na Praça Tiradentes e uma na Praça Generoso Marques. Elas se tornaram referência para os colonos que vinham de áreas mais afastadas para comercializar seus produtos na cidade.

“Foi assim, a partir da cozinha simples e familiar, que nasceram os restaurantes”, declara a pesquisadora da FCC Angela Medeiros.

O jornal Almanaque do Paraná registra que em 1906 Curitiba contava com três cafés ou restaurantes, oito confeitarias e seis hotéis. “Esses estabelecimentos, ainda embrionários, foram os primeiros a abrir as portas da cozinha familiar para o espaço público, marcando o surgimento da memória alimentar da cidade”, destaca a pesquisadora.

Pioneiros

Com o passar das décadas e a modernização da cidade, as modestas casas de pasto foram cedendo lugar aos restaurantes, espaços mais amplos com serviço e cardápio variado. A partir de 1930 começaram a se consolidar os primeiros restaurantes mais emblemáticos, como o Vagão do Armistício, e o elegante restaurante do Grande Hotel Moderno, na Rua XV de Novembro, com serviço à la carte no almoço e no jantar e um menu refinado com pratos internacionais. Na foto, o menu do restaurante do Grande Hotel Moderno.

 

O Vagão do Armistício na Avenida Capanema

O Vagão do Armistício pertencia a Isaac e Júlia, pais do artista curitibano Poty Lazzarotto. Localizado em um barracão nos fundos da casa da família, o restaurante na antiga Avenida Capanema (atual Affonso Camargo) servia refeições para oficiais do 5º Batalhão de Suprimentos. O risoto preparado dona Júlia caiu no gosto popular e o restaurante passou a ser frequentado por políticos, artistas e intelectuais. O Vagão do Armistício, apelido da cantina da família Lazzarotto seguiu aberto até 1960.


A primeira churrascaria

Na década de 1930, a churrascaria Cruzeiro, ocupava um casarão do final do século 19 na Avenida Batel. Ela é considerada a primeira churrascaria de Curitiba, com sua área verde e os grelhados servidos nas mesas sob as árvores, um atrativo nos dias de sol.

Restaurantes com sotaque

A tradição familiar e os imigrantes estão presentes na história dos restaurantes de Curitiba. Grupos originários da Europa, da África e da Ásia, somados à tradição culinária local, são responsáveis pela abertura de casas famosas.

Em Santa Felicidade, os restaurantes Cascatinha e Madalosso, abertos entre as décadas de 1950 e 1960, foram pioneiros em servir risoto, massas, polenta e frango, preparos comuns na culinária de colônias italianas.

Bar do Alemão, no Largo da Ordem

Outro exemplo dessa influência, o Bar do Alemão, no São Francisco, e o antigo Bar da Sociedade Ucraniana, aberto na década de 1970 e posteriormente renomeado como BarBaran, na Alameda Augusto Stelfeld, no Centro, servem até hoje pratos como eisben, kassler, bratwurst e bock wurst, borscht, varenek e holoptchi.

Entre as décadas de 1960 e 1970 se popularizam os estabelecimentos com base na culinária árabe e asiática. É o caso do Patrício Restaurante Árabe, na Avenida Silva Jardim, no Seminário, sob o comando do Sr. Aziz, fundador do Clube Sírio-Libanês. Entre os pioneiros da culinária asiática está o restaurante japonês Nara, na Avenida Iguaçu, inaugurado na década de 1970, e o chinês Hwa Kuo, inaugurado em 1979, na Alameda Princesa Izabel, no Bigorrilho.

Nas últimas décadas do século 21 foram abertos restaurantes com comida típica de diversas regiões do Brasil e do mundo, determinados pelos novos processos migração e imigração, o que intensificou a diversidade de opções pela cidade.

Nos últimos 30 anos, Curitiba vivenciou um boom gastronômico com a abertura de restaurantes especializados em cozinhas regionais brasileiras e internacionais, reflexo da globalização e de novos movimentos migratórios.

Bar ou restaurante? As duas coisas

A vida noturna na capital tem uma clientela em busca de lugares para beber e conversar, mas também para uma boa refeição depois da jornada de trabalho. O Bar e Restaurante Palácio, inaugurado na década de 1930, é um exemplo dessa mistura de bebida e ótimos pratos. Especializado em grelhados e funcionando das 18h às 7h da manhã, ele atraia o público da saída dos cinemas, teatros, futebol e das festas da madrugada.

Mesmo tendo seu endereço alterado algumas vezes, o Bar Palácio manteve-se como referência para intelectuais, artistas, jornalistas, boêmios e políticos. Até meados da década de 1980, mulheres desacompanhadas não eram autorizadas a serem servidas, o que resultou num polêmico levante feminista. Esse evento contribuiu para alteração da sociabilidade em espaços, até então, majoritariamente masculinos.

Em funcionamento, mantém-se como um tradicional bar e restaurante de Curitiba, servindo por mais de 60 anos os mesmos pratos. Sua atual sede, desde 1991, fica na Rua André de Barros, onde foram realizadas em 2008 as filmagens do premiado Estômago, filme do diretor curitibano Marcos Jorge.

 

 

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