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18.08.2025Pioneira da educação, Júlia Wanderley deixou acervo raro da Curitiba do início do século 20
De ideias firmes e ousadas, Júlia Wanderley (1874-1918) abriu caminhos para muitas mulheres e já era reconhecida como pioneira quando decidiu começar a contar a história de sua própria maneira. Professora, escritora, cronista e primeira mulher diplomada professora no Paraná, ela se tornou também uma das mais importantes colecionadoras de imagens da Curitiba do início do século 20.
Júlia, que completaria 151 anos em 26 de agosto, deixou uma fantástica coleção da memória fotográfica da cidade e mais de 100 anos depois ela pode ser vista na Casa da Memória, da Fundação Cultural de Curitiba. A Coleção Júlia Wanderley conta com mais de 1.200 imagens preservadas.
“O valor da coleção de Júlia não está apenas na quantidade de imagens, mas na qualidade do olhar. Os registros dela capturam o cotidiano, uma curadoria delicada e particular, mas que resulta em uma espécie de álbum coletivo da cidade, com ruas, pessoas, construções e hábitos”, destaca Angela Medeiros, pesquisadora da FCC.
As fotos e cartões-postais estão acompanhados de anotações de Júlia, com uma riqueza de detalhes que mostra também como se vivia na capital em transformação. O material é um deleite para pesquisadores.
Uma cronista da cidade
Na época em que as ruas de Curitiba ainda não tinham calçamento, mulheres não votavam e nem frequentavam lojas desacompanhadas, Júlia Wanderley já transitava entre o universo doméstico e o intelectual com desenvoltura rara. Nascida em Ponta Grossa e criada desde a infância na capital, ela se tornou a primeira mulher diplomada professora no Paraná, em 1892.
Filha de um pintor, Affonso Guilhermino Wanderley, que valorizava a cultura e a formação intelectual dos filhos, Júlia foi educada com rigor e estímulo ao pensamento crítico. Ainda adolescente, lutou para ser admitida na Escola Normal, até então exclusiva para homens, e se formou aos 18 anos.
Em sua trajetória, foi professora e diretora da antiga Escola Tiradentes em Curitiba, a primeira mulher da história do Paraná a ocupar essa posição. Na função, implementou métodos pedagógicos modernos e se destacou pelo pensamento avançado para a época. Fora das salas de aula, Júlia escrevia artigos assinados com seu nome ou com pseudônimos.
Visionária, ela contribuiu de forma silenciosa com o futuro, guardando imagens de Curitiba que se tornaram históricas. Atenta às mudanças da cidade, passou a colecionar fotografias, postais e retratos, muitos recebidos por correspondência, outros comprados em estúdios fotográficos ou presenteados por amigos.
Caligrafia na imagem
Julia anotava à mão cada imagem, com datas, nomes, eventos e observações pessoais. A imagem do novo Mercado Municipal, na Praça Generoso Marques, por exemplo, vem acompanhada de uma descrição precisa sobre sua construção, reforma e localização: “Mercado de Curitiba construído em 1874 por iniciativa do Dr. João José Pedrosa, então Presidente da Comarca. A primeira pedra foi colocada solenemente a 19 dezembro de 1873. Reformado pelo Sr. Brasilino Moura em 1906. Antes de (18)74, o Mercado funcionou em velhas casinhas situadas na atual Praça Municipal, ao lado desse Mercado. Praça Municipal, 1904”.
Em um cartão com vista da Praça Tiradentes, datado de 1905, ela registra o local onde conheceu o marido, Frederico Petrich. Em outra, aponta uma procissão se dirigindo ao bairro Cabral e, na anotação, menciona a casa da irmã onde nasceu o sobrinho Julinho (Júlio Wanderley), criado por ela como filho.
"Para ela, os cartões-postais eram mais que um hobby, eram registros históricos. Sua coleção não tem um único tema dominante, é um retrato da cidade em expansão, com seu cotidiano”, diz Angela.
Do álbum familiar ao patrimônio público
A coleção foi doada ao Instituto Histórico e Geográfico do Paraná nos anos 1970 por Julinho. Em 1993, foi firmado um acordo para reprodução e guarda da coleção pela Fundação Cultural de Curitiba. Desde então, parte do acervo passou a integrar a Casa da Memória, onde é conservado, grande parte já digitalizado e está disponível para consulta pública.
“Essa documentação iconográfica é uma das mais importantes para se entender a Curitiba das primeiras décadas do século 20. Júlia fez um trabalho silencioso e absolutamente pioneiro de preservação da memória urbana”, afirma Angela.
SERVIÇO
Para ter acesso à Coleção Julia Wanderley é necessário solicitar por e-mail (casadamemoria@curitiba.pr.gov.br), ou comparecer diretamente na Casa da Memória: rua São Francisco, 319 – São Francisco. Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 18h
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