13.01.2014Uma potente terapia - entrevista com Ivan Lins

Ivan Lins dispensa apresentações. Músico completo com sólida carreira nacional e internacional, indicado e ganhador de diversos Grammys, graças principalmente à mistura de jazz e bossa nova que carrega em sua bagagem desde a infância, passada nos Estados Unidos.

Como cantor e compositor deixou sua assinatura em grandes canções como “Abre Alas”, “Somos Todos Iguais Essa Noite” e “Começar de Novo”. A sensibilidade das letras escondia até críticas à ditadura militar, frutos de sua postura ética e idealista que acompanham sua carreira desde sempre.

Como empreendedor fundou em 1991 a gravadora Velas, totalmente independente e que abriu caminho para várias outras no Brasil. Recentemente, levou para casa um Grammy Latino pelo disco que gravou com a orquestra holandesa The Metropole Orchestra.

E projetos para o futuro não faltam: na lista, um disco de Jazz e outro com temática caipira e a música de raiz. E será, também, uma das grandes atrações da 32ª Oficina de Música de Curitiba. Apresenta-se no dia 15, na abertura da segunda fase do evento, junto com o Vocal Brasileirão. Ivan Lins conversou com o Guia Curitiba Apresenta sobre a Oficina, sua carreira, a importância da música e até deu dicas valiosas para quem está começando. Leia a seguir:

Conhece a Oficina de Música de Curitiba? Qual a importância de eventos como esse para o desenvolvimento dos músicos?

Não, não conheço, mas já ouvi falar. E gosto do que fazem. Qualquer movimento em direção a melhorar desempenhos, inclusão, incentivos e tudo que se relaciona a dar mais visibilidade aos músicos, sejam iniciantes ou não, é movimento vital para este país. Somos o país com a maior diversidade e riqueza musical do planeta. Mesmo não nos reconhecendo assim, somos o país da música. Nossa índole natural é a música. Portanto, a Oficina de Música de Curitiba é de vital importância.

Você começou a tocar piano apenas aos 18 anos. O que falaria para quem já acha que passou da idade de aprender um instrumento?

Que nunca é tarde para começar. O grande flautista e saxofonista Mauro Senise começou do zero aos 21. Tem músico aí que começou ainda mais tarde. Quando se realmente quer, se aprende. E música é uma potente terapia. A música salva. A música cura. Falo sério.

Sua gravadora independente, a Velas, foi lançada em uma época de grande domínio dos grandes selos, no início dos anos 1990. Como foi aquele início? Acha que o seu empreendimento abriu caminho para outras que surgiram depois?

A Velas é a mãe de todas as gravadoras independentes, não dos selos. Os selos sempre foram dependentes das distribuidoras. As gravadoras sempre tiveram sua própria distribuição. Trama, Biscoito Fino, Indie e outras só existem porque nós existimos e mostramos que era viável. Só fechamos por causa de problemas de gestão. Mas com gestão adequada, é possível sobreviver.

O que você acha do cenário atual da música brasileira? As fórmulas de sucesso não estão prejudicando a sua evolução? Quem você considera os nossos melhores músicos atualmente, tanto conhecidos como revelações?

Existem dois tipos de música no Brasil: as na frente do pano, de cara com o grande público, e as por trás do pano, que não chegam ao grande público. As primeiras frequentam as grandes mídias abertas e as segundas, só as mídias alternativas. As primeiras são, às vezes, de qualidade bem duvidosa e bastante descartáveis, as segundas continuam mantendo o bom nome qualitativo da música popular brasileira e se eternizarão com o tempo. As primeiras servem às camadas culturalmente menos favorecidas da população, que são majoritárias, e as segundas servem às camadas culturalmente mais altas, e serviriam a uma boa fatia das classes mais baixas, se os veículos de mídia aberta fossem menos gananciosos, avarentos e, em muitos casos, mais honestos. As fórmulas de sucesso sempre existiram. O grande problema não são elas. É a mentalidade cultural e educacional das grandes mídias. Se bem que há 30 anos, não eram assim. Tem que se reconhecer: em matéria de educação, cultura e mídia, nós estamos numa íngreme ladeira abaixo. Vergonha.

Você é um dos músicos brasileiros mais conhecidos no exterior, tanto pelo público como entre outros músicos. A que atribui isso? Como se constrói uma carreira internacional?

Porque, por sorte, fui educado com boa música e nasci com um dom para isso. E, por paixão desde a tenra idade, desenvolvi minhas habilidades de gosto musical com o passar do tempo. Agora, uma carreira internacional, não tenho a fórmula. O que fiz, foi só manter a qualidade de minha música e permanecer brasileiro até a última raiz do cabelo. O resto veio porque gostaram. E, porque gostaram, só eles podem responder.

Como é a emoção de dividir o palco com artistas como o George Benson, como fez recentemente no Rock In Rio? Com que outros artistas você teve as parcerias que mais te marcaram?

A emoção é sempre maravilhosa, pois estou partilhando um pedaço de mim com pessoas que eu admiro fortemente. Já dividi palco com James Taylor, Jane Monheit, Michel Legrand, Lee Ritenour, Gonzalo Rubalcaba, Cassandra Wilson, Terence Blanchard, New York Voices,Take6, Dave Grusin, Herbie Hancock, Brenda Russel, Lucio Dalla, Ivano Fossatti, Carlos do Carmo,Mariza,etc, etc. Sempre com minha alma comovida. Sorte minha…

Autor: Assessoria de Imprensa da FCC

Fonte: Fundação Cultural de Curitiba

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