17.09.2013Um ilustre colecionador - entrevista com Rafael Urban e Terence Keller

“A que deve a honra da ilustre visita este simples marquês?” A frase com que o colecionador Max Conradt Jr. recebe cada visitante em sua casa onde guarda a memória do mundo deu o título ao novo curta-metragem dos cineastas curitibanos Rafael Urban e Terence Keller. Um projeto que começou depois de uma conversa com o personagem principal há cinco anos e que estreia este mês em grande estilo: concorrendo ao prêmio de melhor documentário curta-metragem no Festival de Brasília, um dos mais tradicionais do país. A dupla de cineastas veio até o Moinho Rebouças, sede da Fundação Cultural de Curitiba para falar um pouco mais sobre o filme e o cenário local da produção de cinema.

Como surgiu a ideia do filme?
Terence Keller: Em 2007 o Festival REcine (de filmes de arquivo) passou pelo Cine Luz. No último dia conhecemos um senhor que nos mostrou alguns cartazes antigos. Um tempo depois recebi um convite para participar de uma exposição sobre as décadas de 1930 e 1940 e entrei em contato com ele. Ao visitá-lo, vimos que ele não tinha apenas cartazes, mas livros, pinturas e revistas… Contei isso ao Rafael, que trabalhava na Folha de Londrina na época e fez uma matéria com ele. Em 2010 que decidimos fazer o curta. Nos inscrevemos para a Lei de Incentivo, por meio do Mecenato e, a partir disso, recebemos o incentivo da Unibrasil. Conseguimos captar R$ 54 mil para fazer o filme.
Rafael Urban: Ele tem 82 anos e uma coleção gigantesca. E há um certo impasse do que será feito com ela no futuro. Tem todas as Playboys americanas, inclusive a número 1, com a Marilyn Monroe, que ele não encontrava no dia da filmagem. E ele continua até hoje aumentando a coleção.

A coleção tem muitas raridades? Alguma história diferente?
TK: Na verdade o filme é sobre o Max, as coleções funcionam mais como um pretexto.
RU: Fizemos umas 20 visitas a ele. Conhecemos tudo e ouvimos várias histórias – algumas mais de uma vez. Ele é um grande contador de histórias.
TK: Uma delas é sobre um quadro da Maysa, de quem ele é um grande fã. Ele encontrou esse quadro e acabou comprando, pagando muito caro. Quis esconder a compra, mas o vendedor acabou entregando o segredo a um jornalista. Como explicar para a família ter gastado tanto em um único quadro?

Foi difícil condensar tantas histórias em um curta? Como foi o processo de filmagem?
RU: A opção pelo curta foi tomada no início, então tudo foi organizado para que fosse assim.

Houve dificuldades para montar a equipe?
TK: Montamos uma equipe de cerca de 15 pessoas. Eu trouxe algumas pessoas que já tinham trabalhado comigo e o Rafael trouxe outros que trabalharam com ele. A gente dispõe de bons técnicos aqui [em Curitiba]. O que não tem é um mercado aquecido o suficiente para que todos trabalhem exclusivamente com cinema.

Qual a importância de lançar o filme no Festival de Brasília?
RU: É incrível podermos estrear lá. São só seis filmes competindo [na categoria] e é o festival mais importante para filmes brasileiros. Também estamos selecionados para Festival Kinoarte de Cinema, em Londrina, e para o Festival de Curtas de Belo Horizonte.

É muito difícil conseguir lugar para exibir curtas-metragens no Brasil?
RU: Meu outro documentário, Ovos de Dinossauro na Sala de Estar, já foi visto por mais de 30 mil pessoas presencialmente. Foi um dos curtas brasileiros que mais circulou nos últimos anos. Foi exibido em canais de TV brasileiros e europeus e nos cinemas, dentro da Sessão Vitrine, antes do filme As Hipermulheres. E tem o circuito de festivais. O Brasil tem uns 300.

Em Curitiba e no Paraná se produz muitos curtas, mas poucos longas-metragens. Por que isso acontece?
TK: Hoje o Paraná se destaca na produção de curtas. Isso porque a maioria dos mecanismos de fomento é para curtas. Se houvesse fomento constante para a produção de longas certamente o Paraná também se destacaria. Um exemplo é o que acontece em Pernambuco, onde há R$ 11,5 milhões por ano para o cinema. Aqui a principal fonte de financiamento aos longas vem sendo o Prêmio Estadual de Cinema, que também não sai todos os anos. O filme de maior sucesso do estado, Estômago, do Marcos Jorge, recebeu verbas do prêmio.

Mas não é possível buscar esse incentivo nos editais nacionais?
RU: O apoio local responde pela maioria dos incentivos, não só aqui no Paraná. Para captar verbas federais é mais fácil quando já há um circuito consolidado no local.

O que falta para o curitibano valorizar mais a produção local?
RU: Falta aquecer o mercado. Criar um circuito. Eu levei o Ovos… para diversas universidades no Brasil e tive uma ótima aceitação.
TK: Há uma demanda reprimida aqui. Exemplo são os lançamentos que acontecem na Cinemateca, todos lotados.

O Max vai à estreia em Brasília?
TK: Não vai. Nos disse que fica muito longe para ele. Mas quando for exibido em Curitiba, ele disse que vai.
 

Autor: Imprensa/FCC

Fonte: Fundação Cultural de Curitiba

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