17.02.2017 Rekòmanse - o Haiti sob o olhar de Brunno Covello

Hoje, ao circular pelas ruas de Curitiba, é bem comum encontrar pessoas conversando em uma língua pouco conhecida por nós, o crioulo haitiano ou crèole, língua oficial do Haiti, é possível ouvi-los também em francês, segundo idioma daquele país. Alguns já arriscam poucas palavras em português, mas com o sotaque arrastado. Aos poucos os migrantes haitianos foram chegando e se incorporando à nossa rotina.

Conhecer um pouco mais sobre essas pessoas, a vivência na capital paranaense e Região Metropolitana, foi pauta para o jornalista Felippe Aníbal e para o fotógrafo Brunno Covello. “O ano era 2014, fomos escalados para fazer uma reportagem sobre xenofobia e agressões sofridas por haitianos no ambiente de trabalho”, conta o jornalista.

O Brunno foi além, “com lentes em punho, começou a acompanhar a rotina dos migrantes do Haiti que aportavam em Curitiba e região metropolitana, no Paraná. Algo lhe dizia, no entanto, que precisava continuar, que precisava ir além. Mas ir para onde? Foi para dentro. Mais que clicá-los, emergiu naquele universo.”, recorda Fellipe.

Desde então, Brunno Covello sensibilizado com os relatos passou a conviver com essa população de mais de 8 mil pessoas. “Eu queria mais que a pauta do dia a dia, eu queria buscar histórias e comecei a me aproximar dos haitianos”.

Dessa determinação do fotógrafo surgiu a Exposição Rekòmanse – outras faces, outras histórias, que será aberta, na próxima terça-feira (21), às 19 horas, no Museu da Fotografia Cidade de Curitiba. Durante a mostra será lançado o livro com o mesmo título, traduzido para o crèole e para o inglês. “Com este trabalho quero trazer a energia positiva, a alegria e o colorido deste povo que, apesar das dificuldades, tem muito orgulho da sua história. O Haiti é o primeiro país negro independente das Américas”.

Brunno lembra que foi um processo longo de imersão e respeito ao ser humano. “No começo, houve desconfiança, por motivos óbvios. Comecei fotografando festas. Depois entrei na rotina deles; no trabalho, na partida de futebol, enfim no dia a dia que é igual ao nosso, cheio de altos e baixos”.

Para ir além o fotógrafo decidiu conhecer o Haiti e com o apoio da Caixa Econômica Federal, seguiu viagem, acompanhado do amigo Marthatias Barthelus. Para lá levou sete retratos para os familiares que não vieram para o Brasil, muitos dos que aqui estão deixaram para trás mãe, marido, filhos. De lá ele trouxe outros sete retratos. “Tentei fazer uma conexão através das fotos. Essas são as únicas em preto e branco. Transformar a emoção das pessoas, fazer pequenas mudanças, é uma das funções da fotografia”.

Mas Brunno quer mais, ele quer contribuir para a desconstrução da imagem de que o Haiti é um país pobre e violento. “Pretendo mostrar quem são os haitianos, mostrar a cultura, a religiosidade, as belezas daquele país, muito além da violência e miséria. Esse trabalho é um grande aprendizado”.

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