09.06.2015Peça "Incêndio" começa temporada na Casa Hoffmann

A Casa Hoffmann – Centro de Estudos do Movimento recebe, na próxima sexta-feira (12), a estreia da peça Incêndio, de Ana Ferreira. O trabalho solo da artista e pesquisadora cênica fica em cartaz até o dia 28 de junho com exibições de sexta a domingo às 20h.

Incêndio mescla performance, teatro e dança e para Ana Ferreira, integrante do Agora Coletivo, a dramaturgia do projeto estabelece níveis sobrepostos de narrativa: mítico, episódico e auto-reflexivo.

No primeiro, o fogo aparece como a fonte da vida, como aquilo que nos consome o tempo todo e, desse modo, é a própria essência da existência. Dele, decorre o segundo, uma ficção inspirada pelo poema A voz do povo de Hölderlin. Nela, um grupo de pessoas se joga num incêndio ao invés de combatê-lo. Este desejo pela morte é colocado pelo poeta num lugar de sublimação. Ao contrário de uma recusa da vida, é uma atração muito grande por sua característica maior: o consumo, o acabar, o passar. Este lugar do mergulho no abismo é, para Hölderlin e para este espetáculo, também o da arte, da onde surge o nível auto-reflexivo ou performativo da peça. Seu discurso chama a atenção para a posição em que a atriz se coloca no palco e a que o próprio público se põe ao ir ao teatro: a da busca por esta intensidade que está intimamente ligada ao vazio, ao desapego, ao deixar passar, deixar morrer.

Este lugar paradoxal da morte que é mais vida, ou excesso que é também um grande vazio, é explorado estruturalmente na relação com o sentido. A ausência do significado é análoga a ausência de identidade e, por sua vez, a uma espécie de morte daquilo que é conhecido e dominado. Assim, a rede de associações que é passível de ser construída pelo espectador está sempre em um jogo de oposição com a experiência, aquém do sentido. Ao mesmo tempo, mesmo a experiência é desde o início orientada por um significado. Portanto, a rede é sempre instável, pois se cria num espaço indeterminado entre a significação e a destituição dela. O teatro, como possibilidade de encontrar a ficção e a poesia com a realização de algo no tempo e espaço, é compreendido como o lugar da possibilidade máxima de colocar estes polos em relação e de desestabilizar identificações.

O projeto se designa um work in process, pois pretende continuar explorando formas do público se encontrar com este incêndio. Este primeiro formato investe mais na duplicidade entre realidade e ficção. A atriz se apresenta como “si mesma”: uma imagem preparada e artificial de si, ao mesmo tempo em que inevitavelmente um “si” que, no agora fugaz, é presença real e tem algo de incontrolável. Assim, a metáfora do fogo se faz na relação entre clareza, iluminação, versus descontrole e o incomunicável do corpo presente.

O projeto se designa um work in process, pois pretende continuar explorando formas do público se encontrar com este incêndio. Este primeiro formato investe mais na duplicidade entre realidade e ficção. A atriz se apresenta como “si mesma”: uma imagem preparada e artificial de si, ao mesmo tempo em que inevitavelmente um “si” que, no agora fugaz, é presença real e tem algo de incontrolável. Assim, a metáfora do fogo se faz na relação entre clareza, iluminação, versus descontrole e o incomunicável do corpo presente.

Sobre a artista - Ana Ferreira é mestre em Letras pela Universidade Federal do Paraná, onde estudou a forma paradoxal através da qual James Joyce tece uma rede de associações no complexo romance Finnegans Wake (1939), algo que Ana Ferreira busca investigar cenicamente neste projeto solo, bem como a sobreposição de níveis narrativos realizada pelo autor.

Recentemente, a artista deu início a um novo projeto de parcerias criativas, o Agora Coletivo, cujo primeiro trabalho a assinar é o solo Incêndio. O grupo busca empreender formas diversas de interação com o público e investiga uma dramaturgia contemporânea.

Serviço:
Incêndio
Data: 12 a 28 de junho – sexta a domingo às 20h.
Local: Casa Hoffmann
Endereço: Rua Claudino dos Santos, 58 – Largo da Ordem 
Ingressos: R$10 e R$5 (meia-entrada).
Duração: 60 minutos.
Classificação indicativa: 16 anos.

Ficha técnica:
Concepção, direção e interpretação: Ana Ferreira.
Colaboração: Fábia Regina, Larissa Lima e Renato Sbardelotto.
Fotos: Eli Firmeza.
Realização: Agora Coletivo.

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