27.05.2013Para escultor, Curitiba é raro exemplo de acesso à fundição artística

O artista plástico baiano radicado em São Paulo Israel Kislansky é uma das principais referências nacionais em escultura contemporânea. Não à toa, é a cabeça por trás da exposição Fundição Artística no Brasil, em cartaz Centro Cultural Sistema Fiep até 14 de julho e que reúne peças de diversas etapas dos processos de fundição, além de obras de escultores como Rodolfo Bernardelli, João Turin, Zaco Paraná e Erbo Stenzel.

Kislansky veio a Curitiba para a abertura da exposição e, apesar de ver a área da fundição artística “em um momento de dificuldades”, encontrou aqui um importante diferencial: o Atelier de Escultura do Centro de Criatividade de Curitiba (no Parque São Lourenço), que considerou “o único exemplo no Brasil onde a população ainda tem acesso a esse tipo de tradição artística/fabril”.

O escultor, que coordenou o projeto que resultou na exposição – fruto da parceria do Sesi Paraná com o Senai Paraná e apoio da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Museu Oscar Niemeyer e Secretaria de Estado de Cultura do Paraná – falou mais sobre a mostra e o cenário atual da fundição artística no país:

Qual é o cenário atual da fundição artística no Brasil?
Está em um momento de dificuldades. Temos hoje poucas fundições comerciais pelo Brasil, não mais de dez, e são raros os artistas em atividade utilizando esta técnica como meio principal de expressão. Isso é fruto de uma história recente, com dois grandes momentos. O primeiro, a partir do século XIX, com a Missão Francesa, que introduziu a fundição em metal como linguagem plástica através dos monumentos públicos, sejam ligados à Monarquia ou à Primeira República. A maior parte dessas obras ainda foram fundidas na Europa, mesmo as modeladas por artistas brasileiros. A segunda etapa foi desenvolvida em São Paulo junto ao Liceu de Artes e Ofícios e, dessa vez, criou uma tradição de fundidores nacionais. Veio para o país uma grande leva de artistas e artesãos italianos especializados em fundição em metal de obras de arte e que permaneceram aqui formando novas gerações de fundidores. Alguns deles se tornaram proprietários de novas fundições comerciais no país.

E a situação aqui no Paraná e em Curitiba?
A história do Paraná não é diferente a das demais regiões brasileiras, em geral dependentes do núcleo Rio-São Paulo e que formavam seus artistas, quando podiam, na Europa. Foi o caso de alguns paranaenses. Curitiba tem um diferencial importante em relação às demais capitais, mesmo em relação a Rio e São Paulo: o Atelier de Escultura do Centro de Criatividade de Curitiba tem há cerca de 30 anos um espaço dedicado à fundição de obras de arte, comandado por um escultor experiente chamado Elvo Benito Damo, e ao alcance da população. Na minha breve visita à cidade por conta da inauguração da exposição, pude conhecer o atelier e testemunhar a frequência e interesse do público, incluindo visitas educativas guiadas. É o único exemplo que conheço no Brasil onde a população ainda tem acesso a esse tipo de tradição artística/fabril.

Quais artistas locais você pode destacar?
Curitiba possui uma rara ligação com a escultura em nosso país, a começar pelos dois gigantes de pedra incrustados no centro da cidade. Essas obras de Erbo Stenzel são emblemáticas, pois abarcam o que há de mais fundamental na escultura: a relação com a matéria e com o homem. Depois há a presença marcante de João Turin, Zaco Paraná e esculturas em bronze de alguns dos principais nomes da escultura naturalista e acadêmica brasileira, como Rodolfo Bernardelli e Pasquale de Chirico. Os espaços públicos e os museus da cidade convidam a potencializar essa relação com a escultura, cabendo à iniciativa pública estimular esse potencial. Devemos ainda dar atenção ao projeto de conservação e novas reproduções da obra de João Turin. É uma das mais consistentes ações realizadas no país para a preservação da obra de um escultor que depende fundamentalmente da fundição em bronze e que possibilitou a criação da primeira fundição tecnologicamente moderna brasileira.

Qual a importância de se mostrar, na exposição, os processos da fundição artística?
Duas questões nos movem. A primeira, e mais evidente, seria sensibilizar o público em relação às obras de arte a partir do conhecimento sobre o processo. Este possui, por si, uma aura mágica que diz respeito à transformação das matérias, o poder do fogo em tornar líquido o mais resistente metal e, a partir daí, a capacidade do homem em moldá-lo conforme sua imaginação. Isso se faz há 9 mil anos e desde 3.000 a.C. a técnica quase não se alterou. Outro fator é o aspecto tecnológico, ou seja, a importância disso como ciência. Não é sem razão que a exposição acontece dentro da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e que a iniciativa para uma renovação no setor no Brasil tenha partido do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), com a criação do Centro Técnico em Fundição Artística Senai, em Osasco (SP).

Que desdobramentos são esperados a partir daí?
Poucas linguagens artísticas evidenciam, como a escultura fundida em metal, essa relação entre tecnologia e arte. Todas as outras possuem, em certo grau, pontos de interseção, mas neste caso há uma total dependência. Nesse sentido, conhecer esse processo é uma forma de aprofundar nossos conhecimentos em arte e metalurgia, favorecendo a valoração de nosso patrimônio e estimulando o interesse, que pode se desdobrar tanto em ações criativas como numa efetiva renovação do setor.

Qual a importância desse intercâmbio que foi feito para que a exposição tivesse elementos locais, e não fosse apenas uma versão da mostra realizada em São Paulo?
A exposição já nasceu com o pensamento de viajar pelo Brasil explorando as características locais, pois sabíamos que teríamos muito para incorporar em cada cidade, como bem prova a experiência de Curitiba.

Serviço:
Exposição Fundição Artística no Brasil
Local: Centro Cultural Sistema Fiep
Data: de 15 de maio até 14 de julho
Horários: de quarta a domingo, das 10h às 19h
Local: Centro Cultural Sistema Fiep – Av. Cândido de Abreu, 200, Centro – Curitiba (PR)
Informações: www.sesipr.org.br/cultura
Entrada franca.

Autor: Assessoria de imprensa

Fonte: Fundação Cultural de Curitiba

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