08.12.2009Oficinas da FCC mostram que para aperfeiçoar talento literário não existe idade

Guayra e Zeny. A primeira teve a redação publicada num jornal de grande circulação aos 18 anos, graças a um professor que se encantou com o texto. A segunda sempre tirou o primeiro lugar nos concursos de redação do colégio. Chegaram aos 60 anos com o desejo de aprender mais sobre o ofício de escrever e passaram a se encontrar nas oficinas literárias promovidas pela Fundação Cultural de Curitiba. Foi também o encontro de histórias de vida marcadas por tristeza e dor. Acontecimentos que, apesar de tudo, não as transformaram em pessoas amargas. Isso porque ambas transformaram o dom de escrever num caminho para aliviar o peso do cotidiano.

Violência e sequestro fizeram com que Zeny Nunes Belmonte desistisse do trabalho em uma agência de turismo e resolvesse se inscrever na Oficina Literária. "Depois de tudo, encontrei meu lugar na Oficina. Sempre gostei de escrever, desde criança. Minha formação é jornalismo. Trabalhava em texto para rádio antes de fazer especialização em turismo. Agora retorno ao texto, só que não jornalístico e sim literário", conta com alegria.

Premiada entre seis mil concorrentes no concurso de literatura do projeto Talentos da Maturidade, promovido pelo Banco Real/Santander, com o conto "Dança dos Sonhos", Zeny lembra o quanto as oficinas literárias contribuíram para que passasse a acreditar no sonho e no seu talento. No ano passado, ela teve a crônica "O Olhar de um não Convidado", sobre a solidão da velhice, publicada na revista "Oficinas de Criação Literária da FCC". "Esses êxitos a gente não esquece. Nas oficinas fiquei mais crítica, aprendi a ver a musicalidade das palavras e passei a escrever, o que não conseguia fazer antes, por falta de técnica", comenta.

Bloqueios no processo de desenvolvimento da escrita literária também ocorreram com Guayra Coelho Sitnik, que assina seus textos como "Depois de enviar uma poesia para um jornal, recebi uma crítica tão negativa que arquivei minha vida literária. Isso aconteceu há uns 30 anos e me marcou muito", revela.

Mais presentes ainda na vida de Guayra são as marcas das perdas, com as quais ela conviveu desde muito cedo. "Meu pai morreu quando eu tinha 9 anos e meu marido quando eu completei 20 anos", rememora. Escrever para ela é como resgatar as lembranças de um pai poliglota e que fazia poesia, como hoje Guayra faz com mais frequência. Durante 17 anos ela sobreviveu trabalhando como dona de imobiliária. Escrevia nas poucas horas livres. Frequentou durante dois anos a faculdade de Direito, mas acabou se formando em Sociologia.

São incontáveis os projetos aos quais ela se dedicou na luta pela sobrevivência dentro de um cotidiano que, segundo ela, pode ter abafado, mas jamais enterrado a vontade imperiosa de escrever. Por isso, ela chama de divisor de águas o fato de ter sido vencedora do Edital de Publicações em Literatura, do Fundo Municipal da Cultura, com a seleção do romance "No Lado Avesso Moram as Asas". "Um livro editado pela FCC, para mim, tem mais importância do que se fosse uma edição comercial, é o aval para continuar escrevendo, fazendo outras oficinas. Creio que ter passado pelo crivo de jurados competentes, nesse edital, significa ter ouvido: vá e faça, tem licença para ser escritora. Só eu posso entender a magnitude desse acontecimento. Vivi décadas querendo fazer, achando que deveria fazer, mas sem a oportunidade", completa Guayra.

Autor: Assessoria de Imprensa

Fonte: Fundação Cultural de Curitiba

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