08.07.2013Movimento, densidade e experimentação

A partir da invenção de Daguerre, em 1839, a morte da pintura começou a ser anunciada. Para o pintor francês Paul Delaroche a chegada da fotografia eliminava a razão para aprender a pintar. "A partir de hoje, a pintura está morta",chegou a anunciar Delaroche em 1895, segundo a história conta. A sentença cruzou o tempo e a técnica continuou sendo questionada por razões estéticas,históricas e filosóficas.

Em tempos de cyber art, quadrinhos, graffiti, arte performática, fotografia, videoinstalações entre tantas diferentes manifestações das artes visuais, aparentemente mais conectadas com o nosso cotidiano, a pintura mais uma vez estaria em risco pelo improvável surgimento de novos e jovens pintores. Há dois anos, o artista Willian Santos, 27 anos, rompeu essa lógica e iniciou sua trajetória na pintura. Já em 2012, o vigor do seu trabalho despertou a atenção do olhar apurado do experiente galerista Marco Silveira Mello que exibiu na sua Casa da Imagem as primeiras obras de Willian. “Chama a atenção como ele transmite a presença verdadeira de águas, líquidos. É um trabalho que tem movimento e densidade”, avalia Marco.

Em abril deste ano, a aposta em Willian resultou na primeira mostra individual do artista. A exposição Nem todo líquido se desmancha em ar ocupa o número 591 da Rua Dr.Faivre, no centro de Curitiba, com telas de até dois metros e meio de altura preenchidas com tinta acrílica, encáustica (mistura de cera de abelha e pigmentos) e muita energia.“O Willian Santos escolheu a pintura. Das linguagens, uma das mais difíceis. Aos meus olhos ele tem uma longa trajetória a cumprir. Mas não podemos esquecer que esta é apenas a sua primeira exposição individual de pinturas. É somente um começo. Mas que começo”, exclama Marco. O Guia Curitiba Apresenta conversou com Willian Santos sobre seu início de carreira, seu processo de trabalho e algumas de suas referências.

Como começa a sua história com a pintura?
Comecei a me interessar por pintura na faculdade, nas aulas da Carla (se referindo a Carla Vendrami. Artista plástica, mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná e bacharel em Pintura pela Embap e pela Accademia Di Belle Arti, de Milão, falecida em 2009). Depois que me formei em Artes Visuais continuei produzindo pinturas e desenhos. Minhas primeiras exposições foram de desenhos, mas ainda me dedicava com afinco à pintura, mesmo estando em segundo plano naquele momento. Até então, eu nunca tinha mostrado meu trabalho para alguém. Em 2011, eu frequentava um curso de extensão com o Geraldo Leão e apresentei alguns trabalhos. As obras geraram alguma repercussão com o Geraldo e o Marco Mello, que apontaram um potencial que eu nem sabia que tinha. Muitas vezes, quando você está trancado dentro do estúdio trabalhando, você não percebe isso. Naquele momento enxerguei um caminho. Pensei comigo, tem alguma coisa aí.

E o seu processo de trabalho?
Em 2011, aluguei um espaço e passei a tratar a pintura como um trabalho. Comecei a cumprir expediente no estúdio, bater cartão. Essas horas dentro do ateliê me permitiram descobrir novas técnicas. Hoje, pinto com acrílica e encáustica e, para não cair numa rotina, tenho um processo de experimentação em que acabam surgindo novos materiais.
Também me utilizo de referências históricas e contemporâneas como matérias-primas. Busco inverter, transformar as funções de correntes artísticas em algo atual. Meu trabalho sempre tem relação com pintores, escultores e outros artistas de diferentes épocas. As obras acabam sendo categorizadas como pintura pela técnica, tinta sobre tela, mas as relações dela com outras linguagens permitem outras interpretações.

Para o espectador, qual característica da pintura deve ser destacada?
Penso que a arte precisa de um tempo para ser absorvida. Não pode ser tão instantânea, superficial e a pintura exige um tempo de observação, de maturação da ideia.

Que outras referências você utiliza para compor suas obras? Musicais, geográficas…?Musicais não. Trabalho com o som ligado no shuffle, algumas vezes encaixa (risos), mas não tem relação. Geográficas sim. Muitas vezes pinto lugares em que nunca estive, aí tenho que sentir frio, incorporar um estado de espírito para vivenciar aquilo e transmitir isso na tela.

Como você imagina sua carreira a partir de agora?
Expor os meus trabalhos na minha primeira individual foi a primeira etapa. Me incomoda muito ver artistas que criam táticas, métodos para produzir mais. Muitas vezes são apenas variações sobre o mesmo trabalho. Faço anotações. Se eu tenho pretensão de ser um artista reconhecido tenho que me desafiar, criar problemas para resolver. Logo após finalizar um trabalho sento na frente dele e observo. Tento olhar como diferentes espectadores. Depois que abri a exposição dei uma pausa, comecei a escrever e a refletir sobre o trabalho entregue. Agora, retomei minha produção com uma motivação ainda maior.

Para conhecer mais as obras de William visite o site http://www.williansantos.com/

 

Autor: Assessoria de Imprensa da FCC

Fonte: Fundação Cultural de Curitiba

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