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15.06.2013Livro revela a arqueologia industrial de Curitiba
Quando pensamos em um arqueólogo, normalmente, nos passa pela cabeça a imagem de um sujeito vestido com roupas estilo safari, geralmente voltado para o solo buscando relíquias em profundas escavações. Em Curitiba encontramos arqueólogos que fogem um pouco desse perfil. O geólogo e fotógrafo Paulo César Manzig e a historiadora Juliana Pereira abraçaram outra vertente da arqueologia e após um ano e meio de trabalho publicaram o livro Arqueologia Industrial na Paisagem Urbana de Curitiba. A publicação foi viabilizada por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura e traz registros fotográficos de instalações industriais, maquinário e mobiliário fabril encontrados em diferentes pontos de Curitiba. Muitas das locações escolhidas ganharam novas funções com o passar dos anos como a Fundição Marumby que hoje abriga o Shopping Mueller. O Guia Curitiba Apresenta entrevistou Juliana Pereira que contou a experiência de produzir a primeira publicação com o tema na nossa cidade.
Onde surgiu o conceito de Arqueologia Industrial?
Na arqueologia, o estudo das fábricas, moinhos, máquinas a vapor, estradas de ferro surgiu na Inglaterra, na década de 1950, 1960. É uma prática que foi propagada para preservar antigos vestígios da industrialização e que acabou por abrir um novo campo de investigação científica. No Brasil o tema ainda tem pouco destaque e é preterido mesmo em debates que toquem na questão da conservação do patrimônio histórico.
Existem referências bibliográficas relevantes produzidas no Brasil?
Quando fui convidada a participar o Paulo já dispunha de parte da bibliografia e ele foi muito solícito em conseguir obras para ajudar a complementar o trabalho. Em português existem publicações canônicas, ao menos para mim. Livros que foram indispensáveis para a elaboração do projeto. A maioria das obras foi publicada em São Paulo e vem do meio acadêmico. No Brasil a arqueologia industrial como tema de interesse científico é bem recente. Por isso, ao final, minhas principais fontes de pesquisa sobre o tema são inglesas.
E como surgiu a parceria com o Paulo?
Nós já nos conhecíamos há alguns anos. O Paulo sempre soube do meu interesse por fotografia e me incentivou muito. Sempre que eu saía com ele para fotografar ele levava uma câmera extra para que eu fizesse registros paralelos. Ele idealizou o projeto e acabou me convidando para a pesquisa e produção do texto.
Qual foi o critério para a escolha das locações?
No projeto formal existia somente um conceito abstrato que foi orientado pela estética, mais voltado para a fotografia. A ideia inicial era a de apenas registrar imagens de lugares abandonados dentro da cidade. Com a aprovação do livro direcionamos a pesquisa para o campo da arqueologia industrial. Além do registro dos objetos, produtos e maquinários, procuramos valorizar os elementos industriais dentro da paisagem urbana.
Quais foram as maiores dificuldades para produzir o livro?
Com certeza foi o medo que os proprietários têm de um possível tombamento da construção. Quando eu falava que a nossa visita era para uma pesquisa histórica as portas se fechavam. Eu entendo isso. Algumas dessas empresas estão enfrentando longos processos de falência, têm dívidas, estão em disputas judiciais e preferem a discrição. No livro foram publicados registros de doze lugares diferentes e poderíamos ter feito mais. Um dos lugares mais incríveis que visitamos (uma olaria no bairro Bacacheri) não nos deu autorização para fotografar. Uma pena, porque era uma construção do Século 19 que funcionava até há pouco tempo.
Na sua percepção, as pessoas estão discutindo mais a preservação de construções históricas e sua memória?
Para o cidadão comum, para quem vive o dia a dia de uma cidade, a arquitetura é o corpo visível da história. Enxergamos mais as construções quando são modernizadas. Com o tempo os espaços vão sendo ocupados, reocupados, recebem novos significados, ganham e perdem função com uma velocidade cada vez maior. No caso das indústrias, vemos que são áreas muito grandes, localizadas próximas aos centros das cidades e estão sujeitas a especulação imobiliária. Percebo que existe uma preocupação maior com o patrimônio histórico, mas não vejo um foco, ainda não sabemos como preservar.
A publicação tem algum viés de militância?
De maneira alguma. Nossa ideia nunca foi a de sugerir o tombamento de algum lugar. Uma vez que é uma propriedade particular, não cabe a nós interferir. O nosso trabalho é apenas de fazer o registro histórico. De qualquer maneira acredito que em alguns casos vale a pena preservar a memória.
Trabalhar com a arqueologia industrial mudou o seu olhar sobre a arquitetura?
Completamente. Sempre observei com cuidado os elementos arquitetônicos. Busco fazer a leitura das paisagens, a leitura histórica das construções. Mas reforcei a ideia de olhar para cima, quando você olha para o alto e presta atenção nos detalhes você percebe que houve alterações naquela construção, você vê que a antiga indústria tem uma nova função, percebe elementos arquitetônicos diferentes. Foi um tema pelo qual eu me apaixonei.
Autor: Assessoria de Imprensa da FCC
Fonte: Fundação Cultural de Curitiba
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