18.11.2019Analfabeto na adolescência, aposentado vira poeta em Curitiba e quer publicar livro

Ele é o mais antigo e assíduo frequentador da Casa da Leitura Walmor Marcelino e começou a escrever quando chegou na cidade

Não é apenas para ler que o aposentado Francisco Estevam de Araújo busca livros – preferencialmente de versos – na Casa da Leitura Walmor Marcelino, no Bairro Novo. “Isso aqui me inspira. É a base sólida e fundamental, a peça-chave dos meus poemas”, diz o leitor, que mal sabia distinguir as letras até os 14 anos e se descobriu poeta há 30 anos. Foi quando chegou a Curitiba de Bom Conselho, em Pernambuco, vindo com a família em busca de uma vida melhor.

Aos 62 anos, Francisco é o mais antigo e frequente leitor desde que da unidade abriu, há quase 10 anos. Agora, para facilitar o contato com autores de sua preferência – como o modernista português Fernando Pessoa, o repentista cearense Patativa do Assaré e o barroco Gregório de Matos – mora na mesma rua da Casa da Leitura.

“Leio bastante mas não pra tentar fazer igual. Leio pra ver a beleza da poesia e achar o meu jeito de fazer versos”, conta ele, que faz poemas sobre paz, trabalho, Natal e Curitiba, a quem homenageou com Curitiba, linda cidade. “É um agradecimento à cidade que me acolheu”, justifica.

Trajetória rumo à poesia

Ex-agricultor que conseguiu terminar o curso de Magistério, Francisco foi professor de Ensino Fundamental na sua cidade natal e sonhou ser jornalista. A poesia nasceu “pra valer” somente quando chegou em Curitiba, em 1989. “Chegar aqui me destampou a beleza dos versos. Aí que eu comecei a escrever as ideias que vinham na minha cabeça”, lembra ele, que trabalhou em áreas completamente diferentes: foi cobrador e auxiliar administrativo de uma empresa de ônibus.

As áreas de atividade profissional não foram a sonhada mas a proximidade com a leitura e, mais que isso, com o ato de escrever jamais abandonaram Francisco. Que o digam os bolsos das camisas pesados de tantas canetas. “É pra escrever quando a poesia vem, quando o versos começa a incomodar até que eu consigo pôr no papel. E se não tiver papel, vai na palma da mão mesmo”, explica.

Até a inauguração da Casa da Leitura, o leitor-poeta visitava a biblioteca situada na Rua da Cidadania do Bairro Novo também para participar de oficinas de texto, que o ajudaram a compor os poemas que carrega numa pasta de mão. Depois de muito ver o poeta transportando seus versos numa sacola simples e cada vez mais abarrotada, a solução para transportar os trabalhos veio de Leandro Aristeu, que faz parte da equipe da Casa da Leitura. “A ideia inicial era que ele mantivesse tudo organizado em pastas do tipo fichário mas ele acabou adaptando o jeito de guardar o material”, diz.

Em busca de uma editora

A meta de Francisco é publicar em vida suas poesias, que em parte estão guardadas com ele. Uma quantidade razoável da dos textos está com a equipe da Casa da Leitura, que também o auxilia com sugestões de leituras. Enquanto o projeto do livro não se concretiza, a mediadora de leitura Kely Medeiros ajudou Francisco a criar um blogue. “É para para facilitar o acesso do público aos textos e ao mesmo tempo reduzir custos”, conta Kely.

Francisco gostou da ideia e começou começou a alimentar com os versos nascidos em situações tão diferentes quanto os momentos em que caminha ou perto da hora de dormir. NO entanto, não esconde a preferência pelo velho livro impresso. “Não é vaidade não”, justifica. “É um sonho, para não ver os versos mortos, perdidos por falta de quem leia. Acho que vão ler mais no livro que na internet”, explica, referindo-se aos cerca de 200 inéditos que estima ter guardados.

Mesmo sem ter livro publicado, ele já é conhecido por seus versos e já é chamado de poeta por moradores da região que também frequentam a Casa da Leitura. Nas duas reuniões anuais do Intercâmbio Poético – uma espécie de sarau artístico em que os moradores da região mostram o que sabem fazer no campo das artes – há quem vá para vê-lo recitar seus poemas.

 

 

 

Autor: Assessoria de Imprensa

Fonte: FCC

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