04.01.2016Sarau popular incentiva a expressão artística e cultural das comunidades curitibanas

Os saraus populares da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) vêm promovendo desde abril de 2014 a expressão da arte popular na cidade. A ação itinerante já mobilizou em torno de 4 mil pessoas, entre artistas e plateia, nos 43 encontros organizados nas comunidades. Somente em 2015, foram realizados 21 saraus populares nas dez regionais de Curitiba, com a participação de 1.875 pessoas.

Para a realização desses encontros, o envolvimento com a comunidade é fundamental. É ela que ajuda a apontar os talentos presentes nos bairros, sejam eles literários, musicais, nas artes plásticas, dança, fotografia, teatro e cinema. A Fundação, a partir de uma lista preliminar, faz o convite individualmente para que os artistas populares apresentem seus trabalhos em público. A divulgação dos encontros também é feita por cartazes, nas redes sociais, nas escolas, igrejas e conta com a mobilização e preparação das lideranças comunitárias através das associações de moradores.

Nos saraus, os artistas locais encontram espaço e oportunidade para demonstrar seus talentos, apresentar seus trabalhos e, ao mesmo tempo, para incentivar a formação de outros artistas e plateia. É o que acontece com o servidor público estadual José Domingos da Silva, que escreve poesia desde os 16 anos de idade. Desde o terceiro encontro, em maio de 2014, na regional Pinheirinho, José Domingos se apresenta nos saraus populares para recitais. Ele também aconselha, motiva, incentiva e recebe inúmeros trabalhos de outros moradores da vizinhança para analisar e dar sua opinião. Em geral, são trabalhos de adultos, mas ele também se emociona em contar a quantidade de crianças e jovens animados com a proposta da ação itinerante e que, depois de participar e compreender o funcionamento do sarau, criam coragem para exibir seus talentos.

Natural do Noroeste do Paraná, José Domingos mora em Curitiba há 26 anos. Ele participou pela primeira vez de um sarau junto com a filha adolescente, que também escreve poemas. A curiosidade dos organizadores em saber de onde vinha o talento precoce da moça é que atraiu a atenção de todos para a poesia feita pelo pai. José Domingos transmite uma percepção crítica do cotidiano, com pitadas ácidas que emolduram sua leitura da realidade social e da consciência do papel transformador de todo artista.

Arte de libertar

“O Sarau Popular é a mola que impulsiona nossa vontade de escrever. Mais importante que publicar um livro é dispor desse espaço de apresentação e de interação com a comunidade por meio da arte”, argumenta José Domingos. Antes dos encontros do Sarau, suas poesias eram conhecidas e apreciadas apenas no círculo dos amigos e familiares. Foi a partir dos encontros do sarau que ele se viu motivado a publicar. “No Sarau, me senti livre para pensar um livro, selecionar os poemas e publicar”, conta. Lançou seu livro “A Poesia Nunca Para…” no dia 31 de outubro de 2015, na edição do Sarau Popular que aconteceu na Associação de Moradores da Comunidade Profeta Elias e reuniu mais de 180 participantes.

Nessa mesma noite, foram vendidos todos os 50 exemplares produzidos inicialmente e já se programa uma segunda edição para dar conta das encomendas de quem perdeu aquela oportunidade de conhecer e apoiar a arte de José Domingos. “Apesar de termos uma comunidade participativa, foi o primeiro evento literário em 30 anos de existência da nossa associação de moradores. Uma experiência diferente e rica para a comunidade”, diz ele. “Toda arte é libertadora e com a poesia não é diferente. Ajuda a libertar dos sofrimentos que não são apenas físicos, mas das ideias e preconceitos que aprisionam as pessoas num mundo fechado, individual”, argumenta. “Se o Sarau é libertador para qualquer comunidade, na periferia essa condição é mais notável”, ressalta.

Popularização da arte

Com a poeta Rita Delamari não foi diferente. Autora de dois livros, ela lembra exatamente do momento em que recebeu um telefonema para participar da primeira experiência de sarau da Fundação Cultural de Curitiba que aconteceria na regional da CIC, em abril de 2014. De lá para cá, tem frequentado o maior número de encontros possíveis. “Fez com que eu iniciasse nas andanças literárias. Quanto mais participava, mais alegre ficava”, conta ela.

Antes disso, Rita, que é policial militar de carreira, se encontrava licenciada para tratamento de saúde. Os saraus reacenderam nela não apenas o gosto em colocar para fora a sua arte, sem se preocupar com julgamentos, como ainda resgataram a vontade de criar, de apresentar material inédito a cada encontro e também o desejo de incentivar e aplaudir as expressões artísticas de outras pessoas.

Rita Delamari lançou seu primeiro livro, “Das Pedras à Flores”, em 2011. A obra traz em 126 páginas 83 poemas. Ela considera um livro de reflexão e até pedagógico em estímulo para a valorização da vida. Já o seu segundo título, “Da Janela do Quarto”, com 100 poemas e 144 páginas, lançado no dia 16 de dezembro de 2015 no Memorial de Curitiba, reflete a transformação a partir da experiência do Sarau Popular. “Nesse, eu deixei o coração falar mais alto”, conta Rita. Foram produzidos 300 exemplares do livro e em fevereiro de 2016 acontecerá uma nova etapa de lançamento da obra.

Ela não tem dúvidas sobre o que representa o Sarau Popular para as comunidades de Curitiba: “É a popularização da arte local e da poesia. Um projeto muito bom que a gente espera que continue e que se expanda”, comenta Rita Delamari. Poemas dela também integram o livro “Conexão”, que é uma antologia dos trabalhos da Feira do Poeta.

O Sarau motivou a criação de uma banda de música, a Elektra, formada por quatro integrantes, que tocam clássicos do pop rock nacional e do folk e rock internacional. Encontros do Sarau Popular estão previstos para acontecer dentro da 34ª Oficina de Música de Curitiba, de 7 a 27 de janeiro. O coordenador do Sarau Popular, Getúlio Guerra, destaca a importância da ação itinerante dos saraus no estímulo e participação das comunidades e informa que para o ano de 2016 o desafio será a realização de oficinas. “A ideia é promover o interesse pela arte em geral”, afirma. Ele lembra que a “madrinha” do projeto é a escritora e artista plástica Marlene de Oliveira, dona de uma história motivadora de superação da violência doméstica e familiar. Antes de falar da exposição dos seus quadros e do livro que lançou, a madrinha abre os encontros do sarau com uma apresentação de dança cigana para lá de emocionante.

Outro projeto da Prefeitura de Curitiba é o “Circulando”, que faz o caminho inverso ao do Sarau Popular. Ele abre espaço aos artistas locais em palcos da Fundação Cultural de Curitiba no Portão, Largo da Ordem e São Lourenço.

Confira a programação do Sarau Popular pelo perfil nas redes sociais:

https://www.facebook.com/saraupopularcuritiba/?fref=ts

Autor: SMCS

Fonte: Fundação Cultural de Curitiba

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