22.12.2014Em defesa do patrimônio da cidade - entrevista com Hugo Tavares

O diretor de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação Cultural de Curitiba, Hugo Tavares, respira história. É graduado e doutorando na área pela UFPR. Entrou na FCC em 1995 e já passou pelo Arquivo Público Municipal, onde foi responsável pelo Arquivo Histórico da Prefeitura de Curitiba. Não à toa foi chamado para o cargo que tem a responsabilidade de preservar a cultura do município. Tarefa dura, mas que tem cada vez mais aliados – a tecnologia, novas linguagens culturais e uma nova lei que está para sair, entre vários outros. Hugo conversou com o Guia Curitiba Apresenta e mostrou um pouco do que Curitiba está fazendo para conservar e expor o seu rico patrimônio cultural.

Quais são os maiores desafios da área?
O primeiro é trazer o patrimônio à mídia. As rotinas não têm a mesma visibilidade que outras ações culturais. Se trabalha muito com acervo, catalogação, pesquisa. Mas temos feito aproximações com entidades como a Rede Empresarial do Centro Histórico. Apoiamos eventos que eles realizam, como o Centro Histórico Divertido e vários outros. E também levantamos o histórico de imóveis da região, gerando um QR Code para que as pessoas possam acessar informações sobre eles. De 55 imóveis envolvidos já temos os históricos de 30. No projeto, chamado Aqui Tem História, estão previstos os códigos, eventos, um roteiro cultural e a capacitação dos empresários e seus colaboradores.

Também existe uma aproximação com novas linguagens?
Estamos nos aproximando de maneira bem efetiva com alguns setores, principalmente ilustradores e quadrinistas. Definimos espaços para exposições deles e estamos no processo de viabilizar um local para ser um ambiente de formação. Também estamos nos aproximando do setorial da moda, tentando achar um espaço para eles. Mas historicamente sempre foram setores excluídos, nunca considerados cultura ou arte. O design, a moda, os quadrinhos e outras novas linguagens têm um potencial muito grande, são organizados e andam com as próprias pernas, mas querem esse reconhecimento institucional.

Como levar os acervos do município ao público?
Pensamos nem só na guarda e preservação, mas numa política de sombreamento com a ação cultural. Então, se o espaço tem acervo, como a Cinemateca, o Solar e a Casa da Memória, a gente trabalha em conjunto tentando divulgar, possibilitar o acesso. Isso faz com que o acervo seja reconhecido pela comunidade, enriquecido com esse novo olhar. Não basta só uma catalogação interna. O acervo tem que ser levado a público. Temos boletins, como o Leite Quente, que digitalizamos e pretendemos publicar na web. Os direitos autorais tornam dificultam um pouco, mas não são obstáculo intransponível.

No que o projeto da Lei Municipal de Patrimônio pode ajudar o setor?
Significa um avanço enorme. Não temos lei de tombamento municipal, mas alguns instrumentos como a transferência de potencial construtivo e o registro dos imóveis de interesse de preservação. Hoje, proprietários entram na justiça e conseguem autorização para fazer intervenções. Imóveis do final do século 19 e começo do 20 até estão preservados, mas a arquitetura moderna, que é significativa em Curitiba, está indo pro chão. A lei também é interessante porque prevê o patrimônio imaterial. E ainda cria um fundo municipal que possibilita ações na área, como de registro e inventário de cultura imaterial ou para patrocinar editais de restauro e pesquisa. Isso tudo é um grande avanço. Outro aspecto é que prevê os bens móveis. Então poderemos trabalhar com a preservação dos acervos artísticos, documentais, mobiliário. Cobrar, exigir e fazer ações mais diretas na preservação desses acervos que existem pela cidade e que são muito ricos. É uma lei extensa mas atual, moderna. Está passando pelo acerto de alguns detalhes no Ippuc antes de ir para a mesa do prefeito. Acredito que ano que vem estará publicada.

E boletins como o da música, que está por vir?
É muito bem feito, já não tem mais a característica de boletim e vai ser chamado de livro. Fará parte das Coleções Casa Romário Martins, que também inclui um novo periódico. O setor de Patrimônio da FCC tem um acervo muito rico, e de conhecimento também. Muita pesquisa foi feita ali. Tem uma equipe capacitada que fez pesquisas muito boas, e não necessariamente acadêmicas, que atendem a um público mais amplo. O que temos é que divulgar esse acervo, fazer parcerias que nos possibilitem devolver à comunidade esse conhecimento. Isso cria uma sinergia, conscientiza as pessoas para a importância da preservação da história. E as pessoas querem conhecer a história. É um produto bastante vendável, se feito numa linguagem atraente.

Autor: Guia Curitiba Apresenta

Fonte: Fundação Cultural de Curitiba

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